Netflix, chefs de cozinha e moonshot. Não entendeu nada? Então leia!

Gosto da Netflix. Não só por sua tecnologia, mas também por algumas de suas séries. Dentre as minhas preferidas, gosto de citar a série Chef’s Table. A série impressiona não só pela qualidade de sua produção, mas também por seu conteúdo. Não se trata apenas de gastronomia. A série aborda outras questões, como sonhos, resiliência, propósito.

E em especial, um episódio que assisti em 2016 mexeu muito comigo, e me fez repensar a forma como estava lidando com o meu propósito, com a minha história e com o legado que eu deveria estar construindo. Nunca tinha parado para pensar nisso, ainda mais de uma maneira tão conectada. 

E nada acontece por acaso. O segundo episódio do Chef’s Table França, que conta a história de Alexandre Couillon e o seu restaurante La Marine definitivamente me pegou. E de certa forma, acabou sendo fundamental para ajudar a moldar os meus próximos 10 anos, pelo menos. 

Couillon e o seu ‘baita’ desafio

O episodio já se inicia com Gilles Pudlowski – criador do Les Pieds Dans le Plat – falando sobre o sobrenome do chef: “Quando me falaram de um chef chamado Alexandre Couillon, eu disse pobre coitado! Na França, um couillon é um imbecil. E pra piorar o tal chef morava em Noirmutier, um lugar que durante muito tempo sobreviveu num casulo.” 

Isto porque Noirmutier é uma ilha, dependente da passagem do Góis – uma estrada precária situada na baia de Bourgneuf e que une a Ilha de Noirmoutier ao continente, ficando submersa pelo mar conforme as marés. A via é transitável durante a maré baixa, ficando inundada duas vezes por dia durante a maré cheia. 

E para dificultar ainda mais, Noirmutier não era lembrada por sua gastronomia, e nunca tinha recebido nenhuma atenção da mídia. Ou seja, na visão de muitos, não tinha nada ali pra dar certo. 

Em determinado momento do episódio, Couillon conta que trabalhava num respeitado restaurante na França, três estrelas Michelin, quando seu pai ligou dizendo: “vamos vender o La Marine, mas você pode assumir”. E a primeira resposta dada pelo filho ao pai foi “não”.

Acontece que depois daquela resposta negativa, alguma coisa se passou na cabeça de Couillon, fazendo-o pensar: “imagine se um dia, quando olharem o mapa da França, apontarem para Noirmutier e falarem – está acontecendo algo aqui!”

Sete anos, um compromisso

E partir da descoberta do seu propósito, o jovem chef acabou tomando a sua decisão. “E por que não?” E assim, Couillon e sua esposa assumiram um compromisso de sete anos – Se desse certo depois deste tempo, eles continuariam. Caso contrário, pegariam as suas coisas e iriam embora. 

E como era de se esperar, as primeiras temporadas foram dificílimas. Os dois assumiram o desafio com o desejo de criar um restaurante gastronômico, mas as pessoas não buscavam por isso. Os turistas, em sua grande maioria, que passavam em frente o restaurante que ostentava uma placa com o seu nome, riam em função do seu sobrenome. Muitas vezes tiravam fotos, debochavam e iam embora. E para piorar, no final de agosto todos os turistas desapareciam. E os outros poucos restaurantes que existiam na ilha fecham suas portas e janelas. Não restava uma vivalma ali.

Mas na cabeça de Couillon só restava uma alternativa: “nós tínhamos que nos impor!” E assim eles começaram a ficar abertos o ano todo. Abriam o restaurante todos os dias, só para que as pessoas soubessem que eles existiam. 

E a vida continuou sendo difícil para a família. Até que no final do sexto ano, apareceu um jornalista – O restaurante estava fechado, e ele perguntou a Couillon como ele sobrevivia. Foi então que o chef explicou a ele sobre o seu compromisso de ficar e lutar ali por sete anos. E ao final o repórter indagou: “você estará aqui no ano que vem?” Já cansado, Couillon acabou respondendo que achava que não. Diante da resposta, o jornalista respondeu “que pena, acho que algo bom pode acontecer a você.”

Três meses depois, Couillon já tinha decidido ir embora, e quando já estavam atravessando a ponte a caminho de casa ouviram no rádio: “O guia Michelin deste ano foi lançado, e o restaurante La Marine ganhou um Estrela Michelin.”

E depois desta primeira estrela, o La Marine se transformou. O restaurante assumiu um estilo mais futurista, proporcionado aos seus clientes uma rica experiência gastronômica e artística a seus frequentadores. Assim como Couillon havia sonhado desde o início.

Sorte? Não, propósito.

E o sonho que moveu Couillon durante a jornada dos sete anos, é o mesmo que me move hoje em iniciativas como a SingularityU Betim Chapter e o IONS Community Group, o único capítulo do Instituto no Brasil.

Um trabalho voluntário, com a esperança de poder ajudar na transformação da minha cidade e porque não dizer do meu estado, e por fim do meu país. De maneira gratuita, integra, esperançosa e apaixonada. É isso que nos move, que dá sentido à nossas vidas. Um real propósito em fazer, e não em ganhar. O resto, como vocês já devem saber, é consequência. E na maioria das vezes, “do bem”.

Alguém aí ainda dúvida disso? 

Vinicius Debian Braichi Guimarães, vanguardista digital, Embaixador do SingularityU Betim Chapter & Community Leader of IONS Institute of Noetic Sciences


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