A maldição de Frankenstein, a ética, o propósito e a tecnologia.

Todo mundo já ouviu falar de Frankenstein, o protagonista do clássico romance criado por Mary Shelley (1797-1851) e que teve sua primeira edição impressa em janeiro de 1818. A escritora britânica concebeu esta obra incrível aos 18 anos de idade, criando um dos ícones mais reverenciados pela nossa cultura popular. O romance foi adaptado por algumas companhias de teatro nos anos seguintes, mas foi no cinema que Frankenstein foi alçado ao posto de “pop star” – O primeiro filme foi feito em 1910, e desde então, outras tantas versões foram realizadas em diferentes mídias. 

Mas o que faz essa história um sucesso até hoje?

A criação de Shelley trazia um personagem que se angustiava com a sua própria existência: Frankenstein não havia escolhido existir, e carregava uma visão muito angustiada sobre a vida e a sua existência. “Frank”, para os mais íntimos, lidava com as questões humanas mais fundamentais, relacionadas – pasmem – a busca por um propósito: Por que estou aqui? O que posso fazer para ser melhor e conviver bem com os outros? O monstrengo era grande, assustador e desajeitado. Mas ao mesmo tempo, sensível e questionador.

E depois de varias adaptações para o cinema, com a caracterização do personagem principal variando de acordo com a interpretação do diretor e com a escolha do ator que o interpretava, é lançado em 1957 o filme “A Maldição de Frankenstein”, com Christopher Lee no papel do monstro. O personagem criado por Shelley desta vez apresentava uma nova estética: Nesta versão cinematográfica, “Frank” teria muitas cicatrizes, e seu corpo seria formado por membros e tecidos transplantados. O Frankestein, do diretor Terence Fisher, era uma verdadeira colcha de retalhos humana (talvez uma pequena previsão do que estaria para acontecer nos dias atuais, certo?).

A versão de Fisher mudou definitivamente a estética do monstro, o que para muitos foi a personificação mais próxima da história original do livro. A mensagem “por trás” desta nova roupagem tinha um significado forte: Os riscos relacionados a ambição humana, sobre a consequências de ações impensadas em relação ao papel da humanidade.

Décadas mais tarde, em 1995, o personagem – agora mais cult do que nunca – reascendia toda as velhas discussões em torno da ética, do proposito e do conhecimento. Nasce o termo “Síndrome de Frankenstein” a partir do lançamento do livro, no mesmo ano, chamado “The Frankstein syndrome: Ethical and social issues in the genetic engineering pf animals” de Bernard E. Rolin. Nele, os problemas éticos e sociais são discutidos, agora sob a ótica da tecnologia e da engenharia genética de animais. 

O livro reflete muito sobre a reação das pessoas ao serem confrontadas pelas fronteiras de uma nova tecnologia. Junto com a inovação, provocada por uma nova tecnologia disruptiva, nasce também reações de suspeita, hostilidade e protesto. 

Mas será? 

A tecnologia não surge para desafiar leis divinas ou naturais. Elas surgem para resolver velhos problemas, de novas formas. Ou até mesmo solucionar novos problemas. Não podemos nos manter incapazes de compreender a tecnologia, e não podemos continuar observando os efeitos bárbaros causados por um tipo de engajamento contrário, em uma linha de pensamento mais nefasto. Não podemos deixar o medo tomar conta, nos oprimir. A única ferramenta que pode eliminar o medo é o conhecimento. E é nisso que acreditamos, e lutamos todos os dias: Por um mundo cada vez mais humano, inclusivo e participativo, onde os “Franks” possam conviver harmoniosamente em nossa sociedade. Somando, não dividindo.

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